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Do documentário Homem-Carro.

Buggy Kadron, o design clássico de Anísio Campos

Anísio Campos

José Anísio Barbosa de Campos, ou simplesmente Anísio Campos, foi um dos mais conhecidos designers brasileiros. Para o Planeta Buggy, sua maior criação foi o Buggy Kadron, inicialmente chamado de Tropi, encomendado pela fábrica de escapamentos Kadron e fabricado nas instalações da Puma, em São Paulo.

Só isso já seria algo a ser comemorado, mas o design inovou em todos os aspectos. Não foi o primeiro buggy a ser fabricado no Brasil, mas foi o primeiro com design brasileiro, trouxe faróis embutidos (e grandes), contrariando a tendência da época. Foi projetado com santoantônio em fibra, integrado à carroceria e cuidado nos mínimos detalhes de estilo.

Falecido em 14 de setembro de 2019, Anísio Campos deixou extensa obra, que será lembrada por gerações. Para o Planeta Buggy, é nossa maior inspiração em design de buggy, juntamente com Bruce Meyers, do qual copiou apenas o conceito do encurtamento da plataforma do Fusca e o espírito divertido.

Homem-Carro – O Filme

A filha de Anísio Campos, Raquel Valadares, produziu e dirigiu um documentário sobre a vida dele que, infelizmente, não está disponível nas plataformas comuns de vídeo. Mas é possível agendar uma apresentação por streaming, se tiver pessoas interessadas em reunir um grupo de, no mínimo, cinco pessoas para isso. Se teu clube de buggy se interessar, olha só a oportunidade de fazer uma reunião contando a história de vida do maior designer brasileiro. Veja como neste link – https://www.videocamp.com/pt/movies/homem-carro#

Anísio Campos Homem-Carro
Do documentário Homem-Carro.

O Buggy Kadron

Foi projetado para ser um veículo divertido, feito para andar em praias e passeios. Naquela época, já existia o pneu Dune Buggy da Firestone, mas, aparentemente, não cativou Anísio Campos. O projeto teve o nome de Kadron – Tropi e foi projetado para rodas de pequeno diâmetro e grandes larguras. Anísio, além de projetista, foi também piloto automobilístico. Daí sua paixão por carros esportivos e o Buggy Tropi herdou esta tendência. Era um conceito mais esportivo. No mesmo ano de 1970, o nome passou a ser apenas Buggy Kadron. Logo abaixo, duas

As rodas Scorro “Bolo de Noiva” parecem ter sido projetadas para ele. O retrovisor (externo da Rural Willys) sobre o painel, permitia o abaixamento do parabrisa, sem perder a visão traseira. O limpador único também facilitava este uso.

Claro que a Kadron mostrou seu melhor no escapamento 4×2 que equipava este modelo e que, durante muito tempo, foi padrão dos buggies brasileiros.

Os primeiros modelos usavam a sinaleira traseira do Fusca, quase no centro da carroceria, o que era uma solução muito estranha. Também não tinha piscas embutidos, como posteriormente. Na reestilização do modelo foram incluídas as traseiras de Variant e as dianteiras de Karman Ghia, bem melhores em termos de estilo, sem perder a simplicidade que era o aproveitamento de peças de veículos em produção.

Pequenos ajustes de desenho foram feitos para estes detalhes, incluindo um capô traseiro, que não existia originalmente.

Evolução das plaquetas

Estas duas plaquetas abaixo, ambas de 1970 e ambas do modelo 1, apresentam uma curiosidade. A primeira mostra o nome “Kadron-Tropi”, enquanto a segunda “Buggy Kadron”. Ou seja, o nome “Tropi” foi apenas bem no início da produção. Ainda bem que mudaram…

Buggy Tropi Kadron Plaqueta 15 - Planeta Buggy

Na Fábrica da Puma

O Buggy Kadron foi fabricado em uma linha de prudução na fábrica do famoso esportivo brasileiro.  As fotos a seguir mostram uma visão da fábrica na época. Era o modelo I, como pode ser visto pelos paralamas sem os piscas de Karman Ghia. Somente a carroceria em fiberglass era fabricada lá. Na Kadron, era encurtado a plataforma do Fusca e feita a montagem.

Posteriormente, as carrocerias foram fabricadas na própria Kadron. Segundo a Revista Quatro Rodas, cerca de 600 unidades do buggy Kadron foram fabricadas, ao todo. As unidades eram numeradas e montadas na própria Kadron, o que o torna o primeiro buggy fabricado em série no Brasil, já que Glaspac era vendido na forma de Kits e o Gurgel Bugato também vendido em kits, não passou de 20 unidades.

Mesmo quando utilizava a mecânica do cliente, o serviço tinha que ser feito na fábrica da Kadron, garantindo a qualidade do produto final.

Muitas revistas falavam dos buggies nos anos 70. A AutoEsporte de abril de 1970, também mostrou o lançamento do Buggy Kadron, como o segundo buggy fabricado no Brasil e vendido sob a forma de kits. Ainda era o Buggy Kadron “primeira geração”, que tinha sinaleiras de fusca e não abria o capô traseiro.

As fotos foram enviadas ao Planeta pelo Nelson Forni, de Valinhos/SP, que também mandou fotos de seu “primeira geração” para nós.

Análise Tropi Kadron

Análise de Estilo?

Ok, não vamos exagerar. Analisar o design do Mestre Anísio Campos não é para um leigo, como o “welhomaster” do Planeta. No Máximo, vamos discorrer sobre o que vemos neste belo desenho. Mas, provavelmente, mostraremos alguns detalhes que a maioria dos que não tem familiaridade com o modelo podem não perceber.

O Buggy Kadron é um dos Clássicos do Planeta.

Frente

Difícil dizer qual parte do Buggy Kadron tem maior destaque. Mas a frente tem um estilo que lembra os buggies da época, apenas nos paralamas e no quadro do parabrisa.

Os faróis, de sete polegadas de diâmetro (sealed beam nos originais), são o destaque, pois encaixam no capô, que também se coloca como “pestanas” sobre eles. A Revista Quatro Rodas informa que foi inspirado no esportivo Triumph TR4 e TR5, da década de 60, projetado pelo designer italiano Giovanni Michelotti. O Planeta não viu esta informação em nenhum outro lugar. Realmente, há uma semelhança na inserção dos faróis. O que você acha?

Outras imagens e detalhes deste belíssimo Triumph TR4 1963 podem ser encontradas neste site (em dezembro de 2020).

Qual seria a real inspiração?

Um designer sempre tem influências de outros designers. O Triumph tem o capô sobre os faróis, como o Kadron, mas prefiro acreditar em outra fonte de inspiração, já que, além dos faróis salientes, temos os piscas ali, na mesma conformação.

Jaguar XK-120 (neste link), em dezembro de 2020). E o espelho interno sobre o painel!

Os parachoques dos primeiros modelos foram feitos com uma barra de borracha. Mas logo em seguida, foram feitos como todos os outros buggies da época, em tubos metálicos.

Os piscas, no modelo I, eram colocados à parte, sob os paralamas. No modelo II, foram incorporados, de maneira muito bem feita, ao desenho dos paralamas. São de Karman Ghia, os mesmos utilizados no Glaspac. Mas na falta destes, é possível adaptar os de jipe.

O capô, em todos os modelos originais, abria para trás, na direção do parabrisa. Os clones posteriores, inverteram este sentido, o que foi, no entender do Planeta, um erro. Nos primeiros modelos, o capô era fechado com duas presilhas simples. Posteriormente, foi incorporada uma fechadura do capô traseiro do Fusca.

O parabrisa, bem alto, era feito em esquadria de alumínio, com um único limpador. E era rebatível, podia ser arriado sobre o capô. Como já comentamos, o espelho retrovisor interno era sobre o capô, permitindo seu uso mesmo com o parabrisa abaixado (o Kadron da esquerda está com este item alterado).

Linhas laterais

Nas linhas laterais, o Buggy Kadron segue o estilo de todos os buggies da época, mas com detalhes diferenciados, como as abas nos paralamas dianteiros e o santoantônio de fibra.

A linha da cintura baixa, levantando na direção da traseira é praticamente a mesma de todos os buggies da época, mas também inovando ao fazê-la bem mais estreita que a maioria, já que tinha as abas nos paralamas dianteiros para proteger de respingos dos pneus, o que nos leva a outro detalhe no desenho lateral: Há um alargamento no paralamas traseiro, dando a impressão de que é uma peça separada do restante da carroceria. Quase lembrando os paralamas traseiros do AC Cobra já que, além do alargamento tinha, ao contrário dos buggies da época, um recorte arredondado na área dos pneus.

Santoantônio de fiberglass

Por muito tempo, foi o único buggy com santoantônio de fibra de vidro integrado à carroceria. As linhas suaves combinam perfeitamente com o restante do desenho da carroceria.

Quem nunca viu um Buggy Kadron de perto, talvez não perceba o rebaixo que acompanha o santoantônio na parte superior e na parte traseira. Parece apenas um detalhe construtivo e de estilo, mas é mais que isso. Neste ponto, encaixava uma capota de fibra com vidro na parte traseira.

Nas fotos abaixo, o Buggy Kadron do Moura, com a capota instalada.

Originalmente, havia um brasão da Kadron em cada lado deste santoantônio, além de um na frente, entre os faróis e outro na traseira.

Neste folder de época, os principais pontos de identificação do Kadron. A capota em fibra com portas e “vidros” de acrílico, com abertura de correr, como nos esportivos da época.

Sobre o capô, pequenos pontos de borracha onde o parabrisa podia se apoiar, quando abaixado.

A traseira

Anísio inovou também na traseira, com linhas inimagináveis para um buggy. Ainda hoje, nenhum conseguiu linhas tão impactantes, fluídas e ao mesmo tempo, simples.

No primeiro modelo, Anísio aproveitou as sinaleiras do Fusca e não tinha abertura no motor, apenas um pequeno buraco embaixo da placa, que era basculante. Mas, com esta configuração, era praticamente impossível ter uma carburação dupla, por exemplo.

No segundo modelo, foi criado um enorme capô e as linhas foram alteradas para colocar sinaleiras de Variant, que já eram usadas pelo Glaspac. O escapamento 4×2, acima do parachoque tubular duplo, completava o visual da traseira.

Nas imagens abaixo, a comparação entre os dois modelos. O preto é o modelo I, mas teve uma alteração na abertura do motor, com estranhas aletas. O da direita é o modelo definitivo, com abertura do capô e lanternas de Variant 1970, montadas invertidas (esquerda na direita e vice-versa). Uma mínima alteração de design apenas para acomodar estas alterações que se fizeram necessárias logo após o lançamento do Buggy Kadron.

Painel

Como todo buggy da época, a regra era economizar e aproveitar o máximo de peças do carro doador. Por isso os primeiros usavam até as lanternas do Fusca (na verdade, apenas o refletor, a lente e o anel de acabamento, não a lanterna inteira).

No painel, apenas o essencial e usando os instrumentos originais. O velocímetro e o marcador de combustível do Fusca (ou do carro doador), ficam localizados ao centro, para facilitar a leitura.

Como opcional, poderia ser equipado com outros estilos de instrumentos mais esportivos.

O estranho desenho do painel, com saliências em ambos os lados, também lembra alguns esportivos ingleses, como os MG da década de 50. Na foto abaixo, o MG-TD 1954. Talvez o desenho original tentasse fazer um direcionamento do ar quando estivesse com o parabrisa abaixado, característica destes modelos. O espelho retrovisor interno também está sobre o painel. Repare nos faróis, será que não foi deste carro a inspiração dos faróis do Kadron? As abas dos paralamas também lembram, vagamente as do buggy.

Curiosidade: este modelo teve uma réplica fabricada pela Avalone, no Brasil, com mecânica de Chevette. Neste link (de dezembro de 2020), mais informações sobre esta réplica.

Buggy Kadron - Inspiração do painel MGTD 1954
MG TD 1954 - A inspiração do painel do Buggy Kadron? Os faróis também lembram alguém?

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Kadrons no Planeta?

A antiga página do Planeta Buggy tinha outros Kadrons. Mas o trabalho para trazê-los todos para cá era complicado e acabou não se concretizando. Eventualmente, colocaremos por aqui.

Quem ajudou?

Marlassa – Marlon Von Rohrbach, que fez uma bela pesquisa e está tudo ali, no meio do texto.

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Conheça os Buggy Kadron que estão no Planeta

As Atualizações do PB

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Este post tem 2 comentários

  1. Marlon Von Rohrbach

    Ohhhh Carlão, muito me honra ter meu nome ali, embora não fiz nada, o expert no assunto é o grande Beco buggyman! Muito boa matéria, parabéns!!

    1. Beco

      Como não? No nosso Trello tá lá toda a tua contribuição. Sem um ponto de largada, tudo fica mais difícil. Conto contigo para o próximo (Selvagem ou Baby)

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