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Buggy Reno – História do Clássico de 1969

Um Clássico do Planeta – Buggy Reno – RJ

Em 1969 surgiram os três primeiros buggies no Brasil, o Glaspac (São Paulo), cujo primeiro modelo é uma cópia quase fiel do Meyers Manx americano, o AC Tropi, depois Kadron (São Paulo) de desenho próprio de Anísio Campos com seus faróis semi-embutidos, e o Reno (Rio de Janeiro cidade de Petrópolis) com desenho de Nils Armin Halboth, de linhas arredondadas, seguindo os mesmos conceitos dos outros dois de apenas duas peças: carroceria e capô.

Há mais de dez anos que troco mensagens com Nils Halboth. Quando ainda trabalhava, tive dificuldade em montar uma página que realmente fizesse jus à história e à competência de um empresário criativo e inovador.

Agora, montei esta pequena postagem com algumas imagens e textos do próprio Nils e o reconhecimento do Planeta Buggy, que o Reno é um dos Clássicos do Planeta!

Nils Armin Halboth é brasileiro, carioca,  86 anos. Um cara inventivo que desenvolveu várias soluções inovadoras na década de 70 para seu buggy Reno, cujo desenho, totalmente original, foi desenvolvido por ele mesmo.

A Reno Indústria de Plásticos Ltda (1965-2006), com 15 empregados, era de letreiros luminosos e peças sob encomenda de acrílico e fibra de vidro.

O Início

Texto de Nils Armin Halboth com alguma intervenção do Beco

O primeiro Buggy Reno foi posto a rodar em apenas quatro meses e meio, desde a desmontagem da carroceria de um VW Sedan 1957, o encurtamento com solda em “V” do chassis, projeto, escultura do modelo em gesso, fabricação do molde de produção, laminação da carroceria, montagem sobre o chassis e todo o resto.

Um típico fiberglass body, um pouco mais voltado para trilha. Desenho algo diferente dos californianos, linhas bem arredondadas e mais alto

O encaixe do capô, parafusado na carroceria, começava paralelo até a metade, abrindo depois em “V”, e não reto como em todos os demais.

Tal detalhe conferia enorme rigidez ao painel, eliminando aquele sacolejar lateral, mesmo suportando um para-brisa bem maior.

A traseira era um hexágono, tributo ao anel do benzeno, elemento básico de todos os plásticos.

Esse primeiro Reno, foi o único com armação de para-brisa de ferro, e já tinha limpador, além da mala para ferramentas e tralhas. trancada debaixo do banco traseiro.

Possuía um nicho para estepe normal, aro 15″. E tinha para-choques iguais na frente e atrás, de tubo virado, fechado, com bons suportes parafusados no chassis.

Logo em 1970 a carroceria do Reno foi um pouco alargada, recebeu armação de para-brisa de alumínio, fixo no início e rebatível logo depois (sem necessidade de remover as palhetas do limpador), um bom porta-luvas com chave, alavancas seletivas do freio de mão nas rodas traseiras, painéis de arremate laterais com o nome Reno discreto.

Todas as carrocerias da primeira geração foram vendidas em forma de kits, cabendo ao comprador fazer a montagem com rodas, faróis, lanternas, escapes e bancos de sua preferência.

Em 1971 o capô foi rebaixado, formato de cunha, obrigando a retrabalhar o tanque de gasolina original.

Em fevereiro de 1972 saiu uma excelente e longa reportagem sobre o Reno e mais dois concorrentes na Quatro Rodas (ano XI,  Nº 141). Tive apenas uma semana para dar uma geral no carro de meu próprio uso para a reportagem, enquanto os outros haviam se preparado mais tempo.

Quem ler a reportagem e observar as fotos vai notar que “ação” só houve do Reno. (nota do Planeta: se alguém tiver esta revista, escaneia e manda pra nós!)

O Reno foi indiscutivelmente o primeiro buggy do Rio de Janeiro.

As imagens a seguir mostram os desenhos originais e a montagem do primeiro buggy Reno.

Após os desenhos, a primeira foto mostra o buggy feito em gesso para fazer a forma. A segunda com o corte da plataforma em “V”, a carroceria pronta e depois algumas fotos do buggy montado.

Imagens Históricas

O primeiro modelo montado sobre um Fusca 1954 e, ao lado, outro montado sobre uma Variant e que foi de uso próprio do Nils por muitos anos.

Detalhe do estepe “continental” no segundo buggy, com o parachoque no devido lugar, atrás do estepe.

Segue a narração do Nils:

A segunda foto foi tirada em Passo Fundo numa área em que viviam os índios Formiga em túneis subterrâneos, com meus dois filhos e o caçador que indicou o local para os pesquisadores da Universidade de Passo Fundo.  

Foto de junho 1978. Rodei muitos anos com esse carro, que tinha o motor de Varian 1.600 e estepe continental. 

Montado em 1974, com pintura de poliuretano de formulação cedida pela Bayer na época.  Não arranhava de jeito nenhum.

Os Bancos “Ripados”

Vamos para a história dos bancos: não os produzia no início, usava os do próprio Fusca ou então os bancos concha de fibra que havia no mercado para carros de rally.

O meu, equipei com bancos concha na frente. Fibra revestida com um vinil furadinho e uma fina camada de espuma. Como eram para carros fechados, o fabricante nem sequer fazia furos pra drenar água.

E não deu outra. Depois de uma curta pancada de chuva um conhecido meu, fiscal da receita estadual, acenou para mim: ” Tá indo pro centro? me dá uma carona”. E antes que eu pudesse reagir ela já tinha pulado pra dentro e sentado. “Porra, Nils, agora vai ter que me levar até em casa que estou com a bunda toda molhada!” Sorte que ele morava no centro mesmo!

Daí surgiu a idéia de fazer um assento que não acumulasse água e nem que esquentasse demais exposto ao sol.

Numa fina estrutura tubular com duas tiras de aço sustentadas por molas nas extremidades, parafusei uma série de ripas de madeira horizontais que mandei estofar.

Ficou ótimo, principalmente para mim, que tenho uma lesão na espinha desde os 30 anos, fruto de um tombo de uma certa altura. Em qualquer posição que me sentasse, se ereto ou todo relaxado, a espinha estava sempre perfeitamente escorada.

Mais tarde substituí as réguas estofadas por outras feitas de espuma de poliuretano semi-rígido expandido dentro de molde.

Curiosamente, pouco tempo depois, uma grande fábrica de bancos de carro carioca lançou, com grandes outdoors em todo lugar, bancos igualmente ripados como os meus.

Não tiveram muito sucesso, parece, mas tiveram a mesma idéia, talvez por causa do calor quando o carro ficasse estacionado ao sol na beira da praia.

Foram feitos só dois pares desses meus bancos. Quando refiz todo o projeto do buggy, início dos anos 80, equipei-os com o tal banco que “ajuda a sair do carro” porque notei que o pessoal se agarrava desesperadamente no para-brisa pra sair do buggy e, mesmo sendo feito com um perfil “T” de 1.1/2 x 3/16 e vidro temperado, decididamente não foi feito para tal esforço.

Projetei o banco com furos de drenagem de água empoçada, encostos laterais com bom apoio para a gente se erguer, e um espaldar bem alto oferecendo mais conforto.

Além do banco rebater para a frente, para não esquentar ao sol, leva um estofamento de vinil e espuma, que é simplesmente enganchado, podendo ser facilmente removido para servir de colchonete.

Mesmo sem o estofamento o banco é bem confortável. Também fiz uma versão para obesos, só que neste caso fica difícil comandar os freios seletivos para as rodas traseiras, feitos para puxar, e não para empurrar.

Na Galeria a seguir, os bancos ripados. Observe o estepe e o parabrisa rebatido na primeira foto. Na última foto, os bancos ripados com réguas de poliuretano.

O Segundo Modelo

Em 1981 reformulei todo o projeto, surgindo a segunda geração, com detalhes e recursos que até hoje nenhum outro possui.  

Continuou um clássico, com motor e chassis VW a ar, porém utilizando só a espinha do chassis, com piso todo de fibra e vedação entre chassis e piso por blocos moldados de poliuretano flexível.  

Embutido na carroceria recebeu um sub-chassis de sólido tubo retangular zincado a fogo, parafusado no chassis VW,  proporcionando total rigidez ao veículo. 

Como o santantonio é parafusado diretamente nesse sub-chassis, pode-se, com os devidos cuidados, içar o carro todo, completo, pelo santantonio.  

Debaixo do capô, sem dobradiças nem trancas aparentes, foi acomodado o tanque de gasolina VW, o estepe tamanho normal (aro 15), esguicho, caixa de fusíveis, depósito de óleo de freio, etc.  

Acesso ao motor também por tampa com gonzo e tranca invisíveis; caixa de ferramentas trancada sob o assoalho (onde cabia também um pequeno guincho manual a ser preso com correntes em qualquer dos para-choques – se você cair de frente num valão o guincho fixo é só enfeite), É claro que os para-choques do Reno suportam o esforço. 

O banco traseiro podia ser baixo ou alto, mas sempre rebatível para se transformar numa caixa-bagageira. Na versão de banco alto existem mala e nicho da bateria por baixo, trancados.  

Dá para acondicionar as pontes desmontáveis de ferro, desenvolvidas para vencer pequenos vãos, passar por cima de troncos ou fazer uma esteira por cima dum lamaçal.  

Em toda a volta do habitáculo um útil corrimão de alumínio. O ponto alto e único num buggy feito em série é a capota realmente conversível, com armação pantográfica, e até forrada por dentro.  

Além de levantar e fechar fácil, dá para removê-la toda em menos de 1 minuto.  As sanefas são montadas em rolos de alumínio carregados com mola. 

A versão de banco baixo era geralmente montada sem o santantonio, mas com pequenos suportes para encaixar a capota.   

Para-brisa rebatível, porta-luvas com chave e freios seletivos nas rodas traseiras permaneceram.  Além das configurações de assento alto ou baixo atrás, havia a opção de quatro capôs: 

  1. o original arredondado
  2. o que reproduz com o máximo de fidelidade a frente do Packard anos 30, com perfis de aço inoxidável (para quem não sabe, o  Packard foi um dos grandes clássicos americanos e é uma heresia chamá-lo de calhambeque)
  3. o tipo Mercedes anos 70, e
  4. uma frente agressiva tipo militar.

Para compor a frente tipo Packard, o para-choque dianteiro de tubos paralelos recebia, por cima, um arremate de fibra imitando os para-choques de lâminas da época.  Foi esculpida uma nova lateral, com o nome Reno menos discreto, cujo interior virou porta-objetos. O encaixe capô/carroceria fazendo o ângulo característico e a traseira  hexagonal não mudaram.  

As Frentes do Reno

Foram feitos quatro desenhos para o capô do Reno, podendo ser escolhido pelo cliente qual a versão mais adequada.

Apesar de não ter diferenças no restante da carroceria, parecem buggies completamente diferentes. Bem legal, isso!

Nas fotos a seguir, o primeiro é o capô redondo, segundo o Nils, o preferido pelos jovens (para o PB também!). Depois tem o Mercedes, o Militar e o Packard.

Mais Detalhes, segundo o Nils

O  motor  passou a ser envolvido por sólida gaiola tubular, protegido por baixo por chapa 14 de aço .  

Foram padronizados os assentos dianteiros rebatíveis tipo concha, de desenho próprio, com espaldar alto e apoios laterais para ajudar a sair do carro.

Os para-choques de tubos paralelos virados, os escapes altos de produção própria, as rodas de aço Mangels aro 15″, lanternas traseiras redondas de caminhão, faróis externos e lanternas dianteiras também de caminhão ou trator, bola e tomada para reboque, três retrovisores.

Não houve compromissos na engenharia: todas as trancas, instrumentos, equipamento elétrico, acessórios, guias de bancos,  faróis, lanternas, etc. eram da linha VW a ar ou itens de prateleira, de caminhão ou loja de ferragens.  

Nada exótico, difícil de arranjar. Também equipei carros com a reduzida da Kombi antiga, com adaptador próprio,  

Na década de 90 foi lançada a picape, com a parte traseira toda refeita para receber uma caçamba fechada a chave, de 500 litros, com tampa fácil de retirar totalmente para carga alta.  

A caçamba bascula para dar acesso ao motor plano, havendo ainda uma portinhola para acessar a correia da ventoinha.   

As capotas das picapes não são pantográficas, são bem simples, armação de tubos encaixados, a lona por cima e sanefas de enrolar, com molas. Todos os carros da segunda geração foram montados na própria  Reno.

Tendo sido fabricados relativamente poucos buggies Reno, (jamais foram artigo principal da indústria, que se dedicava a projetos especiais em diversas áreas), são todos clássicos muito exclusivos e muito raros.  

Além, é claro, muito mais completos e versáteis que qualquer outro, até os dias atuais.

Os Desenhos do Segundo Modelo

O primeiro modelo era bem simples mas com detalhes únicos.

Em 1980 foi desenvolvida uma versão monobloco incorporando o piso (com um subchassi tubular de aço zincado a fogo embutido na fibra) mas sempre mantendo a ideia de utilizar apenas componentes VW Fusca.

Mais tarde surgiu a versão picape cujo diferencial era utilizar o motor “plano” da Variant para oferecer o máximo espaço na caçamba.

As imagens a seguir, mostram os detalhes do desenho do segundo modelo do Buggy Reno e da picape desenvolvida a partir dele.

As Versões de Bancos Traseiros

Todas as carrocerias do Reno foram fabricadas para cinco passageiros (mesmo entrando com a documentação para quatro pessoas, o CLRV saía como cinco passageiros por isso todos levam cinco cintos de segurança) e utilizam o motor em pé. 

A picape, que é 10cm mais comprida, era montada com motor plano da Variant.

A versão passageiros podia ter o banco traseiro normal ou o rebaixado. No banco normal, a bateria fica em cima num compartimento separado daquele que acomoda duas esteiras desmontáveis para sair de um atoleiro ou passar por cima de um tronco até 30cm. No rebaixado, a bateria vai sob o assoalho e a intenção era acomodar crianças pequenas.

Em todos os buggies versão passageiros era possível rebater o estofamento do banco traseiro para a frente, criando um espaço para bagagens, compras de supermercado, etc.

Já a picape tem um espaço interno muito grande e se pode remover a tampa (de fibra) com facilidade para carregar uma árvore de Natal. Com a vantagem de que, no caso de chuva, há uma drenagem bem generosa que não atinge nenhum ponto crítico mecânico ou elétrico.

As Esteiras

Uma ideia que pode ser copiada pelos buggistas, são as esteiras que eram fornecidas juntamente com o Reno. 

Ficavam guardadas sob o banco traseiro para serem usadas em situações de trilha.

A foto a seguir, do site Lexicar, mostra o Reno em uma exposição, demonstrando o uso das esteiras.

As esteiras do Buggy Reno

A Capota Conversível

O Reno foi o único buggy brasileiro realmente conversível. Nils desenvolveu um desenho que incluiu inclusive um forro interno. O próprio Nils conta como foi:

Na sua construção contei com a ajuda de um excelente capoteiro, de apelido Jururu. Foi ele quem sugeriu a forração interna (que o Puma nunca teve).

A capota tem linguetas de Velcro para prender em torno da varandinha de alumínio, um cajado de fibra que é parafusado com borboletas por cima do para-brisa. 

A estrutura é apenas encaixada no santantonio. Para retirar ela toda, basta soltar as borboletas da frente, soltar as linguetas e arriar a capota. 

Depois é só dar uma leve pancada no encaixe do santantonio. 

Como o conjunto não é propriamente leve, passei a fornecer um par de cintas pra amarrar o bolo e evitar que o operador arranhasse a pintura

Um Reno 2008

O Nils, depois de parar com a fabricação dos buggies, seguiu com outros produtos da sua empresa. 

Buggies nunca foram o principal produto dele, mas era onde extravasava sua criatividade e se divertia bastante.

Uma delas transformou-se no buggy Reno do Cristiano Sandroni.

Atualmente, Nils está montando mais alguns Reno, porque o cara não para nunca!

O Planeta acompanhou a fabricação deste buggy, tanto com fotos do próprio Sandroni quanto do Nils.

A seguir algumas fotos deste Reno 2008 pronto. E com a capota pantográfica! O capô, estilo Mercedes.

O Reno no Planeta Buggy

O Planeta tem poucos registros de proprietários do Buggy Reno.

Pode ser que apareçam mais alguns orgulhosos donos, depois da classificação como Clássico.

Se tens um, manda a história e fotos para o Planeta! Clica na imagem a seguir para conhecer os que já estão no PB.

Comentários Finais 

Não há a menor dúvida que o Buggy Reno merece um destaque entre os buggies nacionais. 

Por tudo que ele apresentou de novidades, muitas das quais acabaram sendo “absorvidas” por outros fabricantes, e pela criatividade de seu projetista/fabricante, o Planeta o coloca no panteão dos Clássicos do Planeta!

A decisão de colocá-lo como um dos Clássicos já tem mais de dez anos. Mas apenas agora, em 2022, esta postagem foi montada com o auxílio do próprio Nils em conversas memoráveis através de emails.

Minha satisfação em ter conhecido virtualmente esta figura genial é muito grande.

Conheça os Outros Clássicos do Planeta

São nove os Clássicos do Planeta. Em uma terra que dezenas, talvez centenas, de marcas estiveram presentes, o status de Clássico não é para qualquer um!

Dá uma olhada na postagem índice dos Clássicos do Planeta e conhece estas maravilhas! Lembre-se que não estão em ordem de importância, mas simplesmente na ordem que foi montada a página original.

As Atualizações do Planeta Buggy

Os links a seguir levam para as atualizações mais recentes do PB. Para ver todos por ordem de publicação, clica em Novidades, neste link ou lá no menu superior.

Este post tem 2 comentários

  1. Chevas

    Um buggy bem completo e com soluções avançadas para a época. Legal.
    []’s

    1. Beco

      Verdade, Chevas! E não consegui colocar todos os detalhes. Faltou a caixa de ferramentas e mais umas coisinhas… O Nils é um cara genial!

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