Análise do Bugre II – Um Clássico do Planeta Buggy
Continuando a série de análise de buggies brasileiros, o Planeta apresenta sua segunda análise, o Bugre II, outro dos Clássicos do Planeta. A Bugre é uma empresa carioca que está no mercado desde 1970 até os dias de hoje. Seu modelo de maior sucesso (na visão do Planeta), é o Bugre II, lançado em 1972, posteriormente aprimorado passando a ser chamado de Bugre IV.
Um fato interessante, lembrado pelo Cristiano, é que os buggies da década de 70 e até 80, mantinham o ano de fabricação do carro doador. Assim, é comum encontrar buggies com ano de fabricação anteriores à própria existência das fábricas. O Velho’73 tem ano de fabricação registrado como 1969, ano do Fusca doador, mas é um Glaspac que foi montado em 1972.
Na essência, o II e o IV são o mesmo modelo, estilo californiano, com a frente baixa e os faróis salientes, mas para efeito da Análise do Planeta, consideraremos apenas o Bugre II.
Um pouco de história
A Bugre começou suas atividades no Rio de Janeiro em 1970, criada pelo empresário cearense Francisco Cavalcante, com a produção do Bugre I, do qual teriam sido fabricadas cerca de 170 unidades. Este buggy era uma cópia quase fiel do Manx II. Mas a Bugre ficou conhecida, de verdade, pelo modelo Bugre II, sendo que na década de 80, chegou a produzir 60 veículos por mês.
Em 1991, o filho de Francisco, Paulo Cavalcante, assumiu a empresa, a qual opera até hoje. Atualmente, a empresa fabrica o modelo Bugre VII. Desde 2005, a Bugre encontra-se instalada no município de Rio Bonito-RJ, na Região dos Lagos. Para entrar em contato com eles, a página é bugre.ind.br.
Plaqueta do Buggy do Breno
Brazão do capô do Bugre. Do acervo de Tarcízio Gonçalvez Neto
O Bugre I
Mas mesmo sendo esta uma análise do Bugre II, o Planeta não poderia deixar de registrar a beleza do Bugre I e colocar a foto de um dos melhores que já foram vistos por aqui.
Este Bugre I pertence a um buggista paulista e tem uma merecida placa preta. Temos visto muita placa “treta” em buggies sem nenhuma originalidade.
Apenas 170 unidades deste modelo foram fabricadas, o que torna-o um clássico muito disputado!
Análise do Bugre II - A opinião do Planeta Buggy
A Carroceria
Como na análise feita do Glaspac, no quesito carroceria, não há grande diferenças, mostrando a origem comum. É uma peça única, modelada para ser fixada na plataforma encurtada do Fusca. Neste aspecto, a Bugre teria inovado, pois o corte feito era em “V”, aumentando a área de solda e, consequentemente, a resistência do conjunto.
No entanto, nos detalhes, aparecem algumas modificações que melhoraram muito a estética e o uso do buggy. Em primeiro lugar, ele não tem aquela reentrância desnecessária para um estepe em pé. No lugar dela, uma caixa retangular, moldada na fibra, que serve como caixa de ferramentas, de bom tamanho.
Além disso, o banco traseiro, que no Glaspac tem o assento muito profundo, fazendo com que seja desconfortável sentar ali, o Bugre colocou o encosto mais para frente, resultando, além de um assento mais ergonômico, em um pequeno local de guarda de objetos. Os cabos de bateria também ficaram melhor colocados. E a caixa de bateria já é fechada na frente, originalmente, ao contrário do Glaspac.
Os suportes da carroceria, que vão fixados nas torres da suspensão traseira, podem ser visto nas laterais.
A Traseira
Na traseira do Bugre II, algumas soluções muito interessantes. A começar pelo espaço criado atrás do encosto do banco traseiro, que possibilita alguém sentar ali ou até mesmo um espaço para colocar alguma bagagem. As linhas de reforço, além do efeito estético, tem esta função.
As lanternas são, originalmente, as dianteiras da Chevrolet Veraneio e C14, com as lentes vermelhas. Se alguém tem dúvida da coloração vermelha do pisca, dá uma olhada aqui nesta página, que mostra a legislação correspondente. Estas lanternas também foram usadas na Puma GT1500 de 1968. Claro que precisa adaptação, mas é fácil encontrar como sinaleiras da Puma GT 1500.
A luz de placa também serve como mais uma sinaleira, ou luz de posição. A que aparece nestes Bugres e que o Planeta acredita ser a original. Segundo Paulo Cavalcante, os primeiros Bugres usavam a luz de placa dos carros ingleses, como o Morris. Depois, passaram para as das camionetes Chevrolet. Parece a sinaleira esquerda da Chevrolet 1949-53, conhecida por aqui como “Boca de Sapo”. Mas a lente transparente para iluminar a placa, está em outra posição. O Fábio Cristão comprou para este buggy amarelo e disse ser da Lambretta LD150.
Ao contrário do Glaspac, a placa não tinha nenhuma articulação, era fixa direta na carroceria. Quando necessário algum trabalho na carburação, é preciso retirar a placa e seu suporte. Nada prático, mas simples de resolver com um suporte de placa do Opala, que é articulado. E não tira a originalidade.
Sobre sinaleiras, o Planeta tem uma página com detalhes desta e de outras sinaleiras de buggies. Dá uma olhada lá na página “Sinaleiras no Buggy“.
Buggies fabricados antes de 1990 não precisam ter luz de ré. Mas, caso interesse, mesmo em um clássico como este, pode ser instalada na traseira, e apenas de um lado. Na caixa, mesmo dos Fuscas mais antigos, há um local para instalar o bulbo. Nestes antigos, ele está simplesmente fechado com um bujão.
O parachoque era de tubos metálicos e o escapamento 4×2, com laterais elevadas, para aumentar o vão livre. Esta foi uma solução comum nestes veículos, na época, inclusive no Gurgel.
Saiba mais sobre parachoques em buggies, nesta postagem do Planeta Buggy.
Neste outro Bugre II, do Cristiano Piló, dá para ver com mais detalhes a traseira do buggy, com os ressaltos modelados na fibra, para colocar as lanternas na posição mais vertical e dar destaque ao desenho. Quer ver mais fotos deste buggy? Visita a página dele na Garagem do Planeta!
Apesar de lembrar o desenho do Manx e do Glaspac, é um desenho bem característico do Bugre II.
Um detalhe interessante nos buggies desta época, é que foram montados sobre Fuscas do final da década de 60, que tinham um semi-eixo mais curto e, como consequência, as rodas ficam mais para dentro, em relação aos Fuscas mais modernos. E isso permitia o uso de rodas mais largas (as “tala largas” da época), sem que saíssem dos limites dos paralamas.
A foto a seguir, do acervo do Tarcízio, mostra a fábrica da Bugre, com a montagem do Bugre I. Diferentemente do Bugre II, este tinha uma semelhança muito maior com o Manx e o Glaspac, principalmente no capô e no painel. Mas a traseira já era praticamente igual à que viria no Bugre II. A lateral já ostentava o nome da fábrica, estilo que permaneceu até os primeiros modelo IV.
Este modelo ainda tinha o protetor de polia, (veja ali, no primeiro buggy, sobre a área do banco traseiro) que a Glaspac também fabricava. Acho que, em algum momento, perceberam que ninguém usava…
As Laterais
O Bugre I, II e IV mantiveram este tipo de lateral que os caracterizam. Com enormes letras indicando o nome da marca. Isso deve ter ajudado a implantar, no imaginário popular, que o veículo era um Bugre e passou a ser, em algumas regiões, sinônimo de Buggy.
Inclusive a miniatura da coleção “Carros Inesquecíveis”, o nome que está na base é “Bugre Bugre I”. Aliás, é uma miniatura do Bugre II…
Mais adiante, uma série de Bugre IV teve um aumento nas laterais, para possibilitar o uso de som em uma área mais adequada para os alto falantes. Mas perdeu um pouco do visual Bugre…
A Frente do Bugre II
A frente do Bugre II mantém o estilo californiano, mas com personalidade própria. Os vincos no capô apresentam uma semelhança com as famosas listras do Shelby, enquanto o bocal do abastecimento, bem centralizado, inspirado no Manx II é bem mais atraente que o Glaspac, apesar de precisar mais cuidado ao abastecer, para não manchar a pintura.
Ainda sobre o capô, um ressalto próximo ao parabrisa mostra a marca. Os paralamas apresentam um contorno mais fluído, acompanhando o capô e tirando o ar de jipe que outros modelos da época tinham. Na montagem das lanternas, uma solução resolveu o problema que o Glaspac tinha. Foram moldados os suportes na própria fibra, dispensando aquele cromado do Karman Ghia. Esta pequena sinaleira é do Jeep Willys a partir de 1964 (ou 69, as fontes são contraditórias). A mais antiga é muito grande. Alguns Glaspac utilizaram, mas fica, esteticamente, meio estranho.
A cor pode ser clara ou âmbar, como no buggy do Cristiano. Lembrando que o pisca dianteiro precisa ter iluminação âmbar, mesmo que a lente seja clara (neste caso, a lâmpada precisa ser âmbar).
Os Faróis
Os faróis originais do Bugre, como de muitos buggies da década de 70, são os mesmos dos tratores e implementos agrícolas, com 130mm de diâmetro.
No Bugre II, os faróis estão montados no alinhamento dos vincos dos paralamas, como mostra a foto do Bugre do Cristiano, acima. No modelo IV, os faróis foram deslocados mais para frente.
O suporte dos faróis também apresenta uma solução muito inteligente, diferente dos outros da mesma época. Ele serve, não somente para fixar os faróis, mas também para fixar a frente do capô. O detalhe do suporte do Farol pode ser visto na foto abaixo, do Bugre do Cristiano. Repare no arco metálico que une o capô à carroceria, proporcionando um ponto de apoio importante, que também serve para sustentar o farol.
O Parabrisa
O quadro do parabrisa dos Bugre I e II, era feito de tubo de alumínio pintado de preto. Neste tubo também eram fixados os botões para prender a capota.
Alguns poliram este quadro, como o Bugre do Cristiano, outros deixaram em preto, como o original. Mas polido fica bem melhor, sem dúvida. Há notícias de que a Bugre também podia fazer com este quadro polido e com o santoantônio cromado, à pedido dos compradores.
Na galeria abaixo, detalhe do quadro do buggy do Cristiano, que é original mas está polido, e uma foto da fábrica, no início da década de 70, com o Bugre I e seu parabrisa com os botões para capota.
O Painel
Enquanto o painel do Bugre I assumia o estilo quase idêntico ao do Manx e do Glaspac, o Bugre II evoluiu para um painel mais limpo e espartano, sem grandes desníveis e desenhos, mas um estilo simples, que permitia um melhor aproveitamento para a colocação de instrumentos, rádios e botões personalizados. No entanto, logo no início da produção do Bugre II, ainda foi mantido o painel do Bugre I, em algumas unidades. É o que os aficionados chamam de “Geração I” ou “Primeira Geração”.
Mas um Bugre é um buggy… e simplicidade deve vir em primeiro lugar. Depois, com o tempo, vêm as customizações, novos instrumentos, nova pintura… tudo é válido para se ter a própria marca no seu buggy.
Alguns painéis de Bugre II
Painel do Bugre II do Márlon Resende
Este painel, do Bugre II do Márlon Resende, é da primeira geração, qu e ainda tem o mesmo desenho do Bugre I. Repare que o capô tem a saliência com no nome da Empresa, coisa que inexistia no Bugre I.
É um detalhe interessante. O painel mais recente e mais conhecido do Bugre II, tem um desenho mais limpo, a abertura do portaluvas e também a possibilidade de colocar mais instrumentos, pelo maior espaço disponível.
Painel do Bugre do Fábio Cristão
Este painel está pintado na mesma cor da carroceria, o que é o standard do Bugre I e II. Isto dá um ar bem limpo ao clássico.
Os instrumentos básicos estão presentes ali, além da abertura para colocação de pequenos objetos. É um espaço aberto e, pensando bem, não faz muito sentido um portaluvas fechado em um buggy. Ou faz? É um carro aberto, um espaço com tampa pode até atrair os vagos para quebrar e ver o que tem dentro…
Painel do Buggy do Cristiano
O Bugre do Cristiano tem todo o interior pintado em preto semi brilho, talvez seja o vinílico. É bom para fazer manutenção, não aparece muito a sujeira e, de quebra, não dá brilho no painel, o que pode ser desagradável em um dia de sol forte.
O Cristiano agregou um mini console, interessante para colocar o celular e pequenas coisinhas que precisam ficar à mão.
Miniaturizando
O Bugre II é o buggy mais miniaturizado do Brasil (o único?). Um deles foi escaneado por um profissional francês, Phillip, como relata o proprietário dele, Daniel. O interessante é que este profissional encontrou o Bugre aqui no Planeta! Hehe, somos internacionais!
As fotos a seguir mostram algumas etapas do escaneamento e o resultado final, uma miniatura da coleção “Carros do Brasil”.
Colaboraram neste post: Fábio Cristão, Cristiano Piló, Tarcízio Gonçalves Neto, Tiago Barba, Lucas Eduardo César
As Atualizações do PB
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Ola, recentemente adquiri um Bugre 1 de 1969, esta muito danificado, estou iniciando o teparo dele e queria compartilhar as fotos do trabalho aqui com voces.
Olá, Max. Com certeza podes mandar as fotos e, claro, algum texto mostrando como estava e o que foi feito. O Planeta agradece!
boa tarde , esse buggy II do Daniel que foi escaneado ,hoje se encontra comigo desde 2019.
Parabéns, Eduardo! Este é um clássico muito bonito e conservado. E eternizado nas miniaturas que estão na casa de muitos buggymaníacos. Espero que não te importes de continuar com as imagens no site. E mandar mais algumas… Foto nunca é demais no Planeta!
tenho um bugre modelo 1 queria so nao esta original por ter colocado motor ap
€
Não é um pecado mortal alterar buggies considerados clássicos. Afinal, um buggy tem que ter a cara de seu dono! Particularmente, não sou um grande fã de motor com refrigeração líquida em buggy mas gosto é gosto!
O modelo I é bem parecido com o Manx e o Glaspac.
acho que as formas eram as mesmas. Tem um pessoal que afirma que as primeiras formas do Bugre foram cedidas pela Glaspac.
Bela matéria, ótimo para quem quer conhecer um pouco mais sobre a história do buggy no Brasil, muito bem ilustrada. Aguardando próxima matéria, e quem sabe uma sobre o Baby. Parabéns.
Vamos chegar no Baby, com certeza! Obrigado pelo apoio