Macan Gurgel 1200 na Quatro Rodas
Felipe Bitu fez uma bela matéria sobre o que teria sido o primeiro buggy brasileiro, mesmo que seu criador não tivesse essa intenção. As fotos são de Fernando Pires
Como sempre faço, solicitei a autorização para colocar esta matéria integralmente aqui no site. Ainda não foi autorizado, mas retiro se não for autorizada. Espero que eles deixem, pois é uma excelente reportagem.
Acredito ser importante fazer a duplicação do conteúdo, pois se para nós, buggistas, este assunto é muito importante, para a revista pode não ser tanto e, eventualmente, ele desaparece de lá.
Por isso, a cópia literal do site. Está exatamente da mesma maneira que apresentada no site da Quatro Rodas.
Leia a seguir, a matéria na íntegra. Aproveito para recomendar a assinatura virtual da Quatro Rodas, para ter acesso a um incrível acervo de matérias sobre carros além, é claro, da revista mensal.
Beco
Macan Gurgel 1200 – Primeira criação de João Gurgel tinha nome de Porsche
Fruto de uma concessionária VW, o 1200 deu origem a uma linhagem de foras de estrada leves que ainda hoje representam o orgulho da indústria nacional
Por Felipe Bitu 8 Maio 2021
Pouco tempo após se formar na Escola Politécnica da USP, o engenheiro João Gurgel conseguiu uma bolsa de estudos no General Motors Institute, nos EUA. Retornou ao Brasil, ingressou na Ford e em 1958 dedicou-se à produção de plástico moldado, karts e microcarros. Em 1966, apresentou seu primeiro automóvel: o Gurgel 1200.
A concepção mecânica do Gurgel 1200 era relativamente simples: o chassi do esportivo Karmann-Ghia era encurtado em cerca de 36 cm e sobre ele instalada uma carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro. Isso possibilitou o desenvolvimento de quatro versões distintas: Enseada, Ipanema, Augusta e Xavante.
O Volkswagen virou Fusca e Friedrich virou “Bob-by”: a amizade prosperou e, na década de 1960, João tornou-se sócio da Macan (Motores, Automóveis, Carroçarias e Náutica), concessionária VW responsável pelo Gurgel 1200. Schultz-Wenk não apenas aprovou o projeto como ainda solicitou uma unidade para exibir no estande da própria VW durante o Salão de 1966.
A história do modelo teve início cerca de dez anos antes, no bairro paulistano do Ipiranga. Ao passar por um galpão da Rua do Manifesto, João conheceu Friedrich Wilhelm Schultz-Wenk, um alemão responsável pela distribuição de um estranho automóvel com motor refrigerado a ar e que chegava ao Brasil desmontado em caixas: o Volkswagen.
Escolhido por Schultz-Wenk, o Enseada era destinado ao uso recreacional. Oferecia quatro lugares, amplo porta-malas e bancos especiais de vime no estilo denominado “Saint-Tropez”.
O Augusta era bem mais requintado, com painel especial, tapetes, rodas cromadas com tala larga, calotas integrais e volante exclusivo. Voltado ao uso profissional, o Xavante era o mais rústico dos quatro e seus pneus lameiros 6,40 x 15 aumentavam o vão livre do solo.
O 1200 se referia à cilindrada do motor VW de quatro cilindros opostos refrigerado a ar. Com 8,8 kgfm a 2.400 rpm e 30 cv a 3.700 rpm, o desempenho só não era pior em razão do peso reduzido, pouco acima dos 600 kg. A Macan falava em otimistas 115 km/h de máxima, mas o consumo médio de 14 km/l parecia razoável.
Cerca de 200 unidades foram encomendadas no Salão de 1966, situação que assegurou a viabilidade comercial do modelo. Os novos motores VW 1300 (38 cv) e VW 1500 (44 cv) garantiram melhora considerável no desempenho: o Gurgel acelerava mais rápido e superava obstáculos com maior facilidade.
O Gurgel foi um dos 11 automóveis que disputaram o “Troféu Quatro Rodas”, concurso realizado pela revista em 1967 para incentivar e promover projetos nacionais. Acabou perdendo o prêmio para o Puma GT DKW, mas foi alçado à categoria de carro esporte e chegou a despertar o interesse do jurado mais ilustre: o designer italiano Nuccio Bertone.
Ciente de que a Macan deveria focar nas atividades de uma concessionária, João deixa a sociedade e, em setembro de 1969, funda a Gurgel Indústria e Comércio de Veículos Ltda. Em menos de um mês, o carro foi avaliado pelo jornalista Expedito Marazzi, da QUATRO RODAS, que apreciou o desempenho do motor 1500 e a estabilidade proporcionada pelo baixo centro de gravidade.
Foi nessa ocasião que o Gurgel recebeu discretas alterações, como caixas de roda redesenhadas, tomadas de ar para a ventoinha de refrigeração nos para-lamas traseiros e maior vão de acesso ao motor. O painel de instrumentos também foi revisto e o para-brisa basculante passou a ser ancorado mais à frente da carroceria.
O Gurgel 1200 deu origem ao modelo QT (Qualquer Terreno), elogiado por ninguém menos que Colin Chapman, o construtor da Lotus inglesa. Ao perceber que o chassi VW encurtado era frágil para o fora de estrada, a Gurgel desenvolveu o Xavante XT, com chassi próprio Plasteel (tubos de aço revestidos de fibra de vidro). Foi sucedido pelo X-12: a exportação para diversos países consolidou a reputação de João Gurgel como criador de jipes capazes de trafegar nas condições mais adversas.
Ficha técnica do Gurgel 1200
Motor: gasolina, longitudinal, 4 cilindros opostos, 1.285 cm³, comando de válvulas simples no bloco, carburador de corpo simples, 38 cv SAE a 4.600 rpm, 9,1 kgfm a 2.600 rpm
Câmbio: manual, 4 marchas, tração traseira
Dimensões: comprimento, 370 cm; largura, 160 cm; altura, 138 cm; entre-eixos, 204 cm; 620 kg
Rodas e pneus: aço, 5,60 x 15
Consumo: 14 km/l
Preço: (outubro de 1970) Cr$ 16.800;
Preço atualizado: R$ 108.449 (referência: salário mínimo)
Comentário do Planeta
Sou um fã do trabalho do Gurgel, desde sempre. Impossível mensurar a importância dele para a indústria nacional.
E fico muito satisfeito quando leio este tipo de matéria. Como a que mostra o trabalho de Anísio Campos no projeto do Buggy Kadron.
O Buggy na Imprensa
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